terça-feira, 29 de junho de 2010

POR QUE GOSTEI DE FURTHER, DOS CHEMICAL BROTHERS?

Os Chemical Brothers estão lançando um novo disco, chamado Further. A notícia já vem rolando faz tempo, mas agora saiu oficialmente na íntegra. Um amigo me emprestou o CD original mesmo - nada de MP3, etc. Gostei bastante da capa. Aliás, em termos de projeto gráfico e visual a dupla nunca fica devendo nada.

Sonoramente, os Chemical Brothers estão de volta a velha forma. Citam a si mesmos. Parece que olham para o passado em busca de um futuro menos imaginário e mais concreto. Vou explicar, de maneira bem prosaica, o que quero dizer com isso: o projeto da modernidade carrega consigo a marca da inovação. Por isso, todo o sujeito tem a obrigação de soar sempre inovador. A indústria cultural espera sempre por isso. "Make it new", como dizia Ezra Pound. Quando o Chemical Brothers apareceu, eles eram extremamente inovadores e apontavam para uma música do futuro. Um futuro que imaginavamos, naquela época, igual ao desenho da família Jetsons. No fim dos anos 90, a dance music e o big beat (gênero em que a dupla estava inserida) começaram a dar sinais de cansaço, repetição de fórmulas e toda sorte de coisas que as pessoas encaravam como fora de moda.

O Chemical Brothers, estou pensando aqui especificamente neles, continuou produzindo e lançando álbuns em busca de soarem inovadores novamente. As pessoas, direta ou indiretamente, também esperavam isso deles. Nesse percurso, os irmãos químicos, flertaram com: rock, hip hop, electro, etc. Considerando o conjunto, eles pareciam perdidos e não encontravam uma saída que daria fôlego a dance music que estavam fazendo.

Mas aí aparece um disco como Further. Que simplesmente rompe com essa "maldição inovadora" da modernidade. Parece que os dois revisão o passado encarando de frente a tradição que eles criaram. Prova de que você não precisa ser pretencioso e pode fazer algo muito bom sendo simples.

Em Further, você encontra um pouco do universo do Chemical Brothers do passado: faixas voltadas para as pistas de dança e faixas totalmente viajandonas - do jeito que a gente gosta. O disco é curto, mas muito bem realizado. Tem guitarras, tem distorções, tem batidas e vocais.

Mas eles voltaram a ser big beat, então? Será que o big beat está tendo o seu momento de revival? Me parece que não. Dos anos 2000 para cá, a disco punk, o electro, o minimal, a space disco e os edits dos novos produtores, abriram muitos caminhos para o uso de novos elementos na dance music. O rock já se uniu a dance music, de modo que as guitarras convivem em paz com as batidas - é que nos anos 90 havia uma guerra entre a dance music e o rock. Portanto, o Chemical Brothers revisa seu passado mas não volta a ser big beat. Agora, eles olham para o futuro de modo mais maduro. Pegando o que fizeram e moldando ao mundo de hoje.

É um disco bem legal. Para você que é fã dos caras ou para você que está conhecendo o trabalho deles agora - nesse último caso, vale rever o passado deles.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

VOCÊ CONHECE O TBD? POIS DEVERIA CONHECER


A DFA é uma gravadora que sempre está nos reservando uma surpresa. Os integrantes do selo estão lançando alguma coisa quase toda semana. E olha que James Murphy nem está por perto - ele está em turnê com o LCD Soundsystem. Uma das últimas boas novidades é o TBD, uma dupla formada por Justin Vandervolger (ex-!!!/Outhud) e Lee Douglas (que discotecou uma vez no RJ, mas não veio a SP). No ano passado eles lançaram um 12" que fez bastante sucesso "What is this?". Para esse ano, resolveram apostar em algo ainda mais ousado e acabam de lançar a faixa "Oh my". Trata-se de 8 minutos e pouco de uma acid house bastante moderna. Me lembrou a dance music dos anos 90, dos tempos em que eu era clubber - como se dizia na época.

É possível ouvir "What is this?" no myspace do TBD e um trechinho de "Oh my" no site da DFA.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

MARK FARINA NA FREAK CHIC


A Freak Chic, sem dúvida a noite mais legal da cidade, terá hoje apresentação do dj Mark Farina. Para quem não sabe ele estava em Chicago quando a house music estava acontecendo por lá. Mais do que isso, Mark Farina foi um dos primeiros djs a colocar uma levada mais jazz em seus sets criando uma maneira única e particular de discotecar. Seu talento resultou numa famosa noite em São Francisco chamada Mushroom Jazz - que depois virou uma série de discos assinada por Farina. Por esses razões e outras mais, essa noite é garantia de boa música.

As duas vezes em que o vi por aqui foram supreendentes. É para dançar a noite inteira e ter aquela sensação única. De verdade! Prova de que a house music, uma senhora de mais de 20 anos, ainda está em plena forma.
*imagem: divulgação

quarta-feira, 16 de junho de 2010

LINDSTROM E CHRISTABELLE REFAZENDO A DISCO

Eu já falei muitas vezes sobre Prins Thomas. Tantas vezes que acabei esquecendo de falar que seu parceiro de longa data, Lindstrom, lançou um disco novo quentíssimo. É uma parceria também, mas não entre os dois. Desta vez, Prins Thomas deu lugar a musa Christabelle. O disco novo chama-se Real Life is No Cool e foi lançado no início desse ano. Trata-se de uma boa surpresa para quem gosta da Space Disco feita pelo norueguês.

Lindstrom, antes do disco com Christabelle, estava fazendo músicas mais experimentais. As faixas do EP Where You Go I Go Too, por exemplo, eram longas, cheias de um clima psicodélico, viajante, etc. O que não quer dizer que era um disco chato, muito pelo contrário. Lindstrom estava apontando para outros caminhos, trazendo outras referências e tirando certa monotonia da dance music. Ainda que nenhuma faixa fosse feita para as pistas de danças, sabiamos que a ideia estava presente.

Parece que Christabelle foi a responsável por dar novo ritmo ao corpo musical de Lindstrom. A voz dela realmente impressiona, mesmo cantando faixas mais lentas. Há sensualidade, ironias, brincadeiras e diversão. Lindstrom também leva as construções musicais aos limites, acelerando e abusando como pode os ares da Disco Music. O ponto alto é a faixa "Baby Can't Stop" que ganhou um remix da dupla Aeroplane. Eu também gosto do cover para "Let It Happen", do Vangelis. A versão desse disco em vinil tem ainda um homenagem ao Bolero, de Ravel, chamada "Little Drummer Boy".


É um disco para ouvir e dançar. E que bom que Lindstrom e Christabelle estejam festejando em grande estilo. Abaixo vídeo para o remix do Aeroplane para "Baby Can't Stop":


sábado, 12 de junho de 2010

A DANCE MUSIC JÁ TEM UMA PRÉ-HISTÓRIA


Vocês viram o artigo A volta dos dinossauros da música eletrônica, assinado por Cláudia Assef no caderno C2+música? É possível ler na versão online, mas vou resumir. Criando um paralelo com a expressão "dinossauros do rock", Cláudia Assef fala que os clássicos da dance music também já estão ficando velhinhos: Kraftwerk foi o precursor de uma linhagem que chega aos anos 90 com Chemical Brothers, Underworld, Orbital e Letfield. Essa geração, aos poucos, está de volta com discos novos e show acontecendo em festivais importantes.

A única coisa que eu ressinto no artigo é o fato de a linhagem ter ficado restrita ao big beat e seus desdobramentos. Como a gente sabe, a dance music é um enorme guarda-chuva que abriga diversos gêneros e subgêneros. O big beat representou apenas uma dessas inúmeras vertentes. E foi o gênero que teve maior apelo popular por flertar com rock, reggae, psicodélia, etc. Também considero que o Kraftwerk foi o responsável por formatar a dance music, porém outros elementos foram adicionados ao caldeirão e resultaram em muitos outros formatos.

Se pensarmos em disco music teremos mais dinossauros nessa família. Se pensarmos no pessoal de Nova York, Chicago e Detroit teremos outros. Se pensarmos no efeito colateral tomou a Europa também haverá mais exemplos da espécie. A lista é realmente bem grande e difícil de resumir em um único artigo. Eu compreendo a escolha do artigo.

Hoje me parece muito complicado fazer distinções entre cada uma das vertentes da dance music. Todas as linhagens se diluiu bastante. House, tecno, trance e drum'n'bass ainda existem mas é difícil definir o limite de cada um nos anos 2000. Explicar essa diferença para um público que não costuma ouvir dance music é uma tarefa de Hércules.

Não estou desmerecendo o artigo. Cláudia, como poucos, tem propriedade para falar sobre o assunto. Ela é autora do livro Todo DJ já sambou - mesmo nome do blog que ela mantém -, já escreveu sobre esse assunto e muitos outros para os jornais e revistas mais importantes do país, editou a revista BEATZ (na minha opinião a melhor revista de dance music que já tivemos) e VOLUME 01, etc. Também já trabalhou com programas de rádio e direção artísticas de festivais. Ou seja, ela tem clara consciência da história da dance music - sim, já temos uma história.

Espero que esse artigo sirva para estimular o aparecimento de outras pequenas histórias sobre essa história maior. Afinal, a gente não quer só dançar. A gente quer dançar e dialogar com um passado tão rico que existe e não pode ser esquecido.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

youPIX 2010 VAI DEBATER A RELAÇÃO DA INTERNET COM A NOSSA VIDA NOTURNA

Acontece essa semana no MIS o youPIX 2010. Trata-se de um evento com palestras, debates e workshops sobre o ambiente da internet e suas redes sociais. Tudo bem informal, descontraído e para todos os públicos. Achei a iniciativa bacana e pelo que li essa já é a sétima edição do evento. Duas coisas são particularmente interessantes: o debate Fuzuê: A web e a noite que vai tratar da relação que a internet estabelece com as festas e os clubes noturnos; e a sabatina com Anthony Vodkin criador do Hype Machine.


O Fuzuê parece a primeira iniciativa de discutir web e noite. A relação é clara: todo mundo que frequenta clubes noturnos ou bares busca informações em sites, blogs, etc. Informalmente, todas essas pessoas acabam divulgando e emitindo opiniões sobre tudo o que está acontecendo. E como diz aquela teoria da web: um consumidor confia muito mais em outro consumidor. Assim, quando outras pessoas recomendam positivamente a tendência é que o negócio seja um sucesso. E eu, sinceramente, sinto falta de uma cobertura da noite na internet. Uma cobertura que seja mais crítica e não apenas musical ou de moda.

Sobre o que esperar da sabatina de Anthony Vokin, eu recomendo bastante a leitura do texto “A rádio tradicional só toca as mesmas 40 músicas”, de Alexandre Matias para o caderno Link do Estadão - aliás, um enorme achado esse caderno.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

CLÁSSICOS DA HOUSE MUSIC #2



Loose Joints - Is it all over my face?
West End Records

Na verdade não é propriamente uma faixa de House Music. Está mais próxima da Disco, eu acho. Mas posso dizer que é uma espécie de proto-house music. Até porque Larry Levan fez a mixagem e quando ele tocava essa faixa no Paradise Garage as pessoas iam a loucura. Arrisco a dizer que até hoje as pessoas ainda vão a loucura, aonde quer que ela toque.

Loose Joints, a dupla por trás de Is it all over my face, é ninguém menos do que Arthur Russell e Steve D'Acquisto. Russell já estudava música há muito tempo e tinha uma verdadeira paixão pela cena clube de Nova York. D'Acquisto era dj e frequentador assíduo do The Loft, de David Mancuso. O encontro dos dois resultou nessa faixa incrível. Parece que Russell era bastante tímido e quando ele ouviu essa faixa na pista de dança a primeira vez, ficou com receio. Ele a achava bastante primitiva. Depois que viu as pessoas dançando enlouquecidas, deu um sorriso.

O que me impressiona nessa faixa é o jeito orgânico e eletrônico que convivem muito bem. Por cima do ritmo a gente tem uma série de melodias e dinamicas que produzem um molho todo especial. O baixo é marcante e o vocal vem no momento certo, mesmo sendo minimalista - tem uma versão com vocal feminino e uma versão com vocal masculino. É uma daquelas faixas que não precisam ser modificadas. Um verdadeiro clássico.